João Paulo Araújo realizou processo de distribuição de material impresso personalizado aos alunos da E.E. Doutor Pompílio Guimarães, no distrito de Piacatuba, em Leopoldina, durante o período do ensino remoto
Quando a pandemia da covid-19 começou, em 2020, o processo educacional teve que se reformular e ir além dos muros da escola. Devido às particularidades de cada local, essa missão não foi fácil e o desafio levou gestores, professores e comunidades a se reinventarem.
Foi justamente com um olhar diferenciado para o cenário que o diretor João Paulo de Araújo, juntamente com a equipe da Escola Estadual Doutor Pompílio Guimarães, no distrito de Piacatuba, em Leopoldina, na Zona da Mata mineira, conseguiu êxito: deixou a evasão escolar para trás e ainda registrou índices significativos de melhoria na aprendizagem dos alunos.
E o trabalho realizado na comunidade durante a pandemia, na tentativa de não deixar nenhum aluno se distanciar do processo educacional, ganhou frutos. João Paulo foi um dos dez vencedores da 24ª edição do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Escola fechada, Educação em Movimento”. Ao todo, foram 2,5 mil inscritos em todo o país.
O objetivo da premiação é reconhecer e valorizar professores e gestores escolares da educação infantil ao ensino médio de escolas públicas e privadas de todo o país. Os dez melhores projetos serão contemplados com R$ 15 mil.
Novas apostilas
A E.E. Doutor Pompílio Guimarães atende, em média, 170 alunos. Quando o ensino remoto foi instituído em toda a rede estadual, como medida preventiva do avanço da covid-19, João Paulo teve um grande desafio. O distrito de Piacatuba tem cerca de 2.500 habitantes e a maioria reside na área rural, com acesso muito limitado à internet. Além disso, poucas crianças dispunham de plataformas digitais, como computadores, tablets ou celulares/smartphones. O acesso ao aprendizado, portanto, teria que ser por material impresso.
O Plano de Estudo Tutorado (PET), uma das ferramentas do Regime de Estudo não Presencial desenvolvido pela Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG), foi adaptado aos diferentes níveis de aprendizado dos alunos de uma mesma classe. O diretor e os professores da unidade elaboravam uma nova apostila, imprimiam e entregavam – uma a uma – nas residências dos estudantes. Assim, houve o fortalecimento do vínculo dos alunos com a escola, evitando a evasão escolar, e a articulação com os pais proporcionou grande engajamento da comunidade.
“A gente tinha aluno com celular, mas sem a internet, ou que tinha internet mas que não era boa o suficiente para navegar; famílias que tinham um celular para diversos irmãos ou aqueles que poderiam utilizar o celular dos pais, mas que, devido ao trabalho, tinham um tempo limitado para o uso. Do total, 40% dos nossos alunos são da área rural e zero internet”, conta João Paulo, que pontua, ainda, sobre as particularidades das classes.
“O material da Secretaria de Educação era maravilhoso e uma potência, mas era um material único para toda a rede. Eu tinha aluno de 5º ano, por exemplo, em três níveis de aprendizado: aquele que correspondia à etapa, o que tinha dificuldade mas conseguia acompanhar e o que não estava alfabetizado. Se eu pegasse o material único e distribuísse a todos, o menino que não estava alfabetizado não conseguiria realizar as atividades. Com isso, ele ficaria desmotivado e, consequentemente, perderia o vínculo. Então, nós adaptamos o PET – e deu muito certo. Em algumas turmas circulavam três tipos de material impresso, mas todos os alunos estavam muito engajados”, destaca o diretor.
Além do currículo básico havia nesse material tarefas com o propósito de fortalecer o vínculo, de aproximar as famílias trabalhando-se o socioemocional.
“Entendemos que todo aluno precisa de um atendimento especial. Passamos meses indo à casa deles, entregando o material e dizendo ‘a escola está aqui, não desista’”, conta. A equipe percorria em média 200 quilômetros por mês para concluir a distribuição das apostilas aos alunos.
Crescimento no índice do Ideb
João Paulo Araújo foi aluno, professor e, desde 2019, dirige a E.E. Doutor Pompílio Guimarães. Em poucos meses, motivou professores e funcionários e incentivou a participação nas provas do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação), tanto que a unidade obteve o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) pela primeira vez nos últimos anos.
“Conseguimos que 100% dos nossos alunos realizassem a avaliação e alcançamos índices expressivos, como, por exemplo, os anos iniciais que saiu de 4.7, em 2007, último Ideb que tínhamos, para 6, no ano de 2019. Encontrei suporte em duas frentes: na participação da comunidade e da SEE/MG, que chegava com uma nova gestão”, finaliza o diretor.
Finalistas
Outra professora mineira, Arlete Aparecida Ferreira, esteve entre os 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10. Seu projeto ganhou destaque com os alunos do 9º ano do ensino fundamental da E.E. Alzira Ayres Pereira, de Catas Altas, na Região Central de Minas. Seu projeto “Achatamento da curva do coronavírus” estimulou os estudantes a compreender as diversas utilidades da matemática na pandemia, reconhecendo que a disciplina ajuda a entender os fenômenos e a orientar a tomada de decisões do poder público.
O Prêmio Educador Nota 10 é uma parceria da Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho, com patrocínio da Somos Educação e BDO, e o apoio da Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes e Unicef. Desde 2018, a premiação é associada ao Global Teacher Prize, realizado pela Varkey Foundation, prêmio global de Educação.