Assistência humanizada é o caminho para a diminuição no número de cesáreas; Hospital Odete Valadares contabiliza até julho, quase 72% de partos normais
Toda gestante deseja ter um parto tranquilo e seguro. Na hora de escolher como, surgem dúvidas. Muitas vezes, a cesárea se torna uma opção por ter data e hora marcadas. Uma questão particular que pode se transformar em problema de saúde pública.
Em Minas Gerais, um trabalho de estímulo ao parto normal, desenvolvido pela rede pública de saúde, tem obtido resultados significativos. A quantidade de nascimentos por este procedimento já é bem maior que o de cesáreas. E as maternidades mineiras são referência nacional em assistência humanizada.
De janeiro a junho deste ano foram realizados na rede pública 92.324 partos. Deste total, 52.033 foram partos normais, o equivalente a 56,4%. Os outros 40.291 foram cesáreas (43,7%). Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares-SIH/SUS,do Ministério da Saúde.
De acordo com a assessora do Complexo de Especialidades da Diretoria Assistencial da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Maria Cecília de Souza Rajão, o número de cesáreas no estado ainda é muito alto.
Mas ela ressalta que houve diminuição das taxas de cesáreas de janeiro a julho deste ano nas maternidades da Rede Fhemig (Odete Valadares,Júlia Kubitscheke Hospital Regional João Penido). Somente no Hospital Regional Antônio Dias foi registrado aumento neste procedimento, de 3%.
“A expectativa é de uma queda progressiva no número de cesáreas. Estamos trabalhamos com a reeducação dos profissionais de obstetrícia para orientarem as pacientes pela escolha do parto normal”, comenta Maria Cecília.
Referência no estado:
A Maternidade Odete Valadares (MOV) é referência no atendimento a gestações de alto risco. A unidade presta assistência integral à saúde da mulher e ao recém-nascido. São realizados por mês uma média de 300 a 350 partos.
O diretor Geral do Hospital, Francisco Viana, comemora a taxa de apenas 28,64 no número de cesárea no período de janeiro a julho deste ano. “Conseguimos reduzir o percentual de parto cesárea mesmo assumindo gestações de alto risco, o que muitas vezes acaba evoluindo para a cirurgia”.
A unidade funciona também como Hospital Escola, oferecendo oportunidades de capacitação e aprimoramento para profissionais da área de saúde. São formados, por ano, 11 residentes com especialização em ginecologia e obstetrícia.
De acordo com o coordenador da Unidade de Internação da Maternidade Odete Valadares, Sérgio Monteiro Delfino, os bons resultados de parto normal no local começa com a conscientização dos profissionais residentes na importância de uma boa conduta para o parto humanizado.
“Os profissionais de saúde são sensibilizados para o trabalho de parto humanizado. O bem estar da paciente e do bebê é o mais importante para o nosso trabalho”, diz Delfino.
Assistência humanizada:
O Hospital Sofia Feldman (HSF) é a maior maternidade do país em números de partos. São realizados lá uma média de 1.000 por mês. Deste total, 73,7% são partos normais. A unidade atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e é referência para o programa do Governo Federal, “Método Canguru” em assistência ao parto e nascimento no país.
De acordo com a médica obstetra Thaís Meyin Lin Santos Dutra, os bons números de partos normais se devem à inserção do enfermeiro obstetra na cena do parto. “A intervenção médica acontece somente quando necessária, quando alguma coisa foge do percurso natural do parto”, diz.
A operadora de telemarketing Gabriela Coelho, 26 anos, grávida de 39 semanas, conta que essa é a sua segunda gestação. “Na primeira gravidez fiz cesárea, mas desta vez quero que seja parto normal, pois a recuperação da cesárea é muito ruim. Por isso procurei o Sofia Feldman”.
Zona da Mata:
Em Juiz de Fora, a maternidade Viva Vida, do Hospital João Penido, vem se destacando pela assistência ao trabalho de parto humanizado.
Referência no município e na macrorregião Sudeste em gestação de alto risco, o hospital possui equipe médica multidisciplinar de médicos, pediatras, anestesista, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogo e assistente social.
Além disso, conta com a Casa da Gestante, local destinado para as grávidas que residem longe do hospital, ou que, após o parto, precisam permanecer no local para acompanhar os filhos que estão internados.
Maria do Carmo Neto, 40 anos, dona de casa, mora a 45 km da maternidade e ficou na Casa da Gestante por 19 dias, até o dia do nascimento do Gustavo Gabriel. O bebê nasceu de parto natural com 4.265 kg.
A dona de casa ressaltou o tratamento que recebeu durante sua permanência no local: “Fui tratada com muito carinho e atenção por todos na maternidade e na Casa da Gestante. O uso da bola (bola de bobath) durante o trabalho de parto aliviaram bastante as dores”.
Métodos que auxiliam:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) defende o uso de práticas favoráveis de incentivo e apoio à parturiente que opta e tem indicação ao parto normal.
Incluem métodos não farmacológicos para alívio da dor, orientações de posições de conforto, presença do acompanhante de livre escolha da mulher, musicoterapia, uso do chuveiro, massagens, bola de bobath , trupper ( banquinho que auxilia no alívio da dor) e banquinho de parto.
A coordenadora técnica de enfermagem do hospital Sofia Feldman, Ana Paula Laje Guimarães Valerini, reforça ainda o papel da mulher. “Quem realiza o parto é a mulher, o mérito é todo dela. Nós, enfermeiros, estamos ali para auxiliar, oferecendo todos os métodos disponíveis para que ela realize o parto de forma mais tranquila e com o mínimo de intervenções possível”.
Colaboração: Omar Freire/Imprensa MG