IDOSO DE 98 ANOS, VETERANO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL , VENCEU TAMBÉM A COVID 19

A memória invejável do ex-combatente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), José Maria da Silva Nicodemos, tem mais uma batalha vencida para se lembrar. O pracinha, de 98 anos, recebeu uma homenagem ao deixar o Hospital Geral de Juiz de Fora (HGE/ Hospital Militar) na última semana, após 28 dias de internação. “Aqui em casa tem um cara com a memória perfeita e com muita história para contar”, destaca o filho de José Maria, Carlos Eugênio Henriques da Silva Nicodemos. A alta, no dia 15 de abril, coincide com a data da ‘Batalha de Montese”, na qual o cabo Nicodemos também alcançou vitória contra os alemães, no fim da 2 ª Guerra Mundial, em 1945, na Itália.

De acordo com o historiador e jornalista Nilson Magno Baptista, José Maria nasceu no distrito de Araci, município de São João Nepomuceno, em 26 de setembro de 1922. É filho de dona Theodora Nicodemos, professora de escola primária, e José Pereira da Silva, lavrador. Lá ele passou os primeiros anos da sua vida.

O veterano tomou as duas doses da vacina contra a Covid-19. Poucos dias depois, segundo o filho dele, começou a sentir os primeiros sintomas. A filha mais velha veio de Belo Horizonte passar uns dias com ele e ajudou a cuidar do pai. “Ele foi piorando aos poucos. Levamos ele ao hospital, e o médico achou que era outro problema. Ele tomou os remédios, mas não melhorou. Ele estava enfraquecendo. Levamos a um outro médico, que achou que era infecção urinária e pediu mais exames, entre eles, o teste de Covid-19. O resultado deu positivo”, contou Carlos. Os dois filhos ajudaram no cuidado com o pai, antes da internação por estar enfraquecido.

O pracinha na década de 1920 estudou na Escola Coronel José Brás
“No final, ele não tinha mais forças para levantar da cama, nem nada. Tudo ou era eu, ou era ela que tinha para ajudar”. Orientado por um infectologista, Carlos, filho de José Maria, levou o pai ao Hospital do Exército, onde deu entrada, no dia 19 de março. No dia seguinte à internação, a filha dele também começou a passar mal. Carlos levou a irmã para o hospital e aguardou das 14h até 1h30, quando ela também foi internada, pois também tinha recebido diagnóstico positivo da doença e precisaria passar por tratamento, porque estava com embolia pulmonar .

“Foi a última vez que vi a minha irmã com vida”, disse Carlos Nicodemos. Ele falou com a irmã no domingo (21), na segunda-feira (22) e na terça-feira (23). Na quarta-feira (24), ela precisou de cuidados intensivos e foi transferida para a Unidade de Tratamento Intensivo. Na segunda-feira (29) por volta das 21h, recebeu a notícia de que ela tinha falecido.

Carlos também descobriu que também estava infectado pelo vírus. Foi ao hospital com os mesmos sintomas iniciais dela. Lá recebeu a orientação para ficar 14 dias em casa. Ele relatou ter tido febre e sentir a capacidade respiratória levemente afetada. “A filha dele o ajudou com as compras do mercado e remédios e a cuidar do avô.

O filho de José Maria melhorou, ficou bem e tinha o desafio de contar para o pai sobre a irmã. A princípio, ele comentou que ela tinha passado mal, mas não detalhou a situação. A alta de José Maria Nicodemos foi adiada por causa de uma pneumonia. Carlos continuou acompanhando a evolução do caso do pai. Quando ele estava melhor, a equipe do Hospital Militar ofereceu suporte para que ele pudesse dar a notícia ao pai.

O momento da alta foi de reverência. A equipe pediu a Carlos para fazer uma homenagem ao pai dele. “Concordo, porque toda homenagem prestada a ele é bem-vinda. Sei que é algo que deixa ele feliz”, contou o filho. Na última quinta-feira (15), ele foi saudado pela equipe do Hospital Militar e de outros oficiais do exército, na saída da unidade, por ter vencido outra guerra.

“Estou com 61 anos de idade. Se ele começar a contar a história do dia que participou de uma patrulha em um Jipe com o sargento e outros soldados, na qual eles avistaram uma divisão alemã completa em fuga – uma divisão tinha cerca de 15 mil soldados -. ele vai contar a mesma história que ouvi desde os 10 anos, e ele não muda uma vírgula. Ele tem uma memória impressionante”, celebra Carlos.

Enquanto o pai ainda se recupera da batalha, ele conta o fim daquela história: “Eles pararam o Jipe e ficaram observando a divisão. Um deles voltou para avisar os outros militares brasileiros. Eles negociaram com um padre em uma cidade próxima o rendimento da divisão para os brasileiros. Assim, José Maria, em uma das batalhas que travou, participou da captura de soldados nazistas.

A recuperação do veterano continua em casa. O Exército disponibilizou materiais necessários para que ele continue recebendo cuidados. A família mantém enfermeiros no atendimento constante. A fisioterapia pulmonar e motora terão início nesta terça-feira (20), a expectativa de Carlos, é de que o pai fique mais forte a partir destes cuidado, para que volte a poder contar, com todos os detalhes de que se lembra bem, sobre cada uma das batalhas da qual saiu vencedor.Fotos: Tribuna de Minas e Portal SJN

 

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