Nesta Sexta Feira Santa (25) O Paulo Roberto da Rádio visitou a fazenda Macuquinho que pertence a cidade de Miraí. Visitamos uma família que nos afirmou que essa casa deve ter aproximadamente 400 anos. A rede Globo através da Fundação Roberto Marinho queria restaurá-la, mas o proprietário da Fazenda não permitiu. Segundo a moradora que nos recebeu a dona Carolina juntamente com seu esposo Alfredo casados a 56 anos, que reside neste patrimônio Histórico a 35 anos nos relatou: “Está casa foi construída pelos escravos, eles moravam nela, era uma senzala a muitos anos atrás, muitos escravos morreram num quarto quadrado aqui, que só tinha uma janelinha lá no alto. Tem uma marca escura no chão, e dizem que se molhar ela fica da cor de sangue, eu neste tempo todo que morro aqui, nunca joguei água neste quarto, pois eu fico com medo de realmente virar sangue”. BREVE MAIS FOTOS DA CASA POR DENTRO E MAIS INFORMAÇÕES.
Visitamos a Tia Josefina e o tio João, e o primo Marcelo na fazenda Ventania.
Como historiador, venho por meio deste comentário fazer algumas moderações e divergir a respeito de algumas considerações postuladas na presente matéria. O processo de ocupação da Zona da Mata ocorreu após a abertura com Caminho Novo, foi neste novo trajeto – que ligava a Província de Minas Gerais com Província do Rio de Janeiro – que foram surgindo vários ranchos e pousos para os viajantes. Foi desses ranchos e pousos que foram surgindo as primeiras vilas e freguesias, mais especificamente na região central da Zona da Mata (que viriam se tornar já no século XIX Juiz de Fora, Mar de Espanha, Matias Barbosa), no século XVIII. O patrimônio histórico apresentado na matéria, faz de um período em que essa região se desenvolveu economicamente pela produção cafeeira tendo como braços para esta produção a mão-de-obra escrava, esta casa não foi uma habitação de escravos, mas sim de seus senhores e muito menos tem quatrocentos anos, pelo fato da ocupação tardia dessa região.
A respeito da habitação dos escravos coloco como referência alguns trabalhos que desenvolveram suas pesquisas com grande maestria:
FLORENTINO, Manolo e GÓES, José Roberto. A paz nas senzalas: Famílias e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790- c.1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.
SARAIVA, Luiz Fernando. Um Correr de Casas, Antigas Senzala: Transição da Mão de obra escrava em Juiz de Fora 1870- 1900. Dissertação de Mestrado em andamento UFF.
SLENES, Robert W. Na senzala uma flor. Esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil Sudeste, século XIX. 2º Ed. Campinas, SP, Editora Unicamp. 2011.
__________. Lares Negros, Olhares Brancos: Histórias da Família Escrava no século XIX. Escravidão. Revista Brasileira de História, v.8, n.16, p. 189-203, mar./ago. São Paulo, 1988.
Sobre o tempo da construção, confesso que não pesquisei sobre datas, publiquei o que os moradores da casa afirmaram. Talvez caberia realmente uma pesquisa com historiadores para se chegar a data onde a mesma foi construída. O que sei é que realmente a casa é antiguíssima, já morei próximo aquela região, e a construção sempre foi comentada como a casa de escravos, e como história do Brasil.