EM MANHUAÇU: DUBLADOR DOS ANOS 1960 SOFRE ABANDONO E MORRE COM AIDS.

DUBLADORMorreu em Manhuaçu, nesta quarta-feira, 06/05, o paulista José Ismael Cândido Varella da Silva, que era portador do vírus HIV e tinha câncer nos ossos. O nome não é tão conhecido, mas a voz faz o ouvinte mais antigo voltar no tempo. Ismael Varella ganhava a vida como dublador e gravou mais de 30 mil vinhetas e participações em desenhos e seriados famosos da televisão brasileira. Emprestou a força e o poder da palavra a personagens de animações como Astérix & Obélix, Thundercats e até a integrantes da tripulação da Enterprise, do cultuado Star Trek.

Contudo, os anos em que a voz de José era ouvida parecem ter ficado para trás, e agora ninguém mais dava valor. Depois de viver três meses em um hotel de Planaltina de Goiás (GO), em seguida em Franca (SP), ele estava morando num pequeno hotel na Baixada em Manhuaçu, implorando pela ajuda de desconhecidos para conseguir realizar tratamentos médicos.
Esse profissional da comunicação nacional sofria as consequências das doenças. Tremia ao caminhar, andava curvado e estava cada vez mais frágil. Por causa do HIV, desenvolveu sarcoma de Kaposi, diabetes e neurotoxoplasmose. Reclamava que os coquetéis receitados pela rede pública de saúde não fazem mais efeito. Saiu de São Paulo e foi a Goiás e Brasília em busca de um médico que pudesse tratá-lo com uma injeção conhecida como T20, receitada nos casos em que o paciente não responde ao tratamento tradicional. Não conseguiu.
Em entrevista ao Jornal Correio Braziliense, há dois anos, o dublador não tinha mais força para trabalhar ou condições financeiras para pagar pelo quarto do hotel em Planaltina (GO). Alegava ainda dificuldades para encarar uma viagem entre Distrito Federal e a capital paulista, remoía o passado e chorava ao pedir ajuda. “Contraí HIV há seis anos, em uma transfusão de sangue, por conta do câncer nos ossos. Agora, a minha pele está cheia de feridas. Dói para tomar banho. Os coquetéis que me dão não adiantam nada. Vim para falar com alguém do Ministério da Saúde. As precariedades do Sistema Único de Saúde (SUS) afetam crianças e jovens. Se eu morrer nessa situação, quero que isso sirva para acordar as pessoas e o governo”, afirmou na época.

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