“Minha família trabalha com cafeicultura há mais de 20 anos. Desde pequeninha, ia para a lavoura, mas não tinha tanto apego. Gostava da planta, mas não a tocava com amor. Eu nem bebia café e agora estou apaixonada”. É com muito entusiasmo e gratidão que a estudante Nicole Damasceno fala sobre sua experiência no programa Jovem no Campo. A pequena mudança de passar a tomar café simboliza com simplicidade o poder de transformação do programa Jovem no Campo, que mostra aos adolescentes que é possível ter qualidade de vida trabalhando com o agronegócio.
Com 16 anos, Nicole acabou de concluir o segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Vereador José de Souza Gomes, em Divino. Apesar de querer cursar Direito, vê com alegria que é possível compartilhar com a família tudo o que aprendeu. “Neste ano, confiamos no Senar e já plantamos de acordo com o que aprendi. Sou muito grata por conhecer e poder apresentar o café de uma forma tão especial”, contou.
Nicole teve o primeiro contato com o Senar ao fazer o curso “A Arte de Ser Adolescente”. Gostou tanto que ficou motivada a participar do Jovem no Campo, mesmo sem ter um interesse muito forte pela atividade. No início do programa, as expectativas eram grandes e agora sua visão mudou.
“O programa me despertou um olhar diferente sobre o café. Foi uma ótima escolha eu ter feito. Tivemos aulas teóricas e práticas com pessoas indescritíveis. Não foi como uma aula convencional. Pudemos brincar, conversar, tirar dúvidas, adquirir conhecimento. Não tenho palavras para descrever a grandiosidade deste programa. Fiquei muito surpresa. Ao mesmo tempo que a gente aprende a trabalhar com o café, aprendemos coisas para a vida. Só tenho a agradecer”, destacou.
Mudando vidas
Nicole foi uma das dezenas de jovens que participaram do programa neste ano em Divino, Sem-Peixe, Acaiaca, Durandé e Martins Soares, em parceria com os Sindicatos de Produtores Rurais de Divino, Dom Silvério, Ponte Nova e Manhumirim.
O objetivo do programa é oferecer aos jovens a visão empreendedora do agronegócio, contribuir para a inserção no mercado de trabalho e estimular a sucessão familiar. Dividido em módulos, o programa os permite conhecer habilidades e competências necessárias para que possam crescer profissionalmente.
Em Divino, 24 alunos concluíram o programa. “Esses jovens vivenciam a parte prática do café, mas desconheciam os porquês. O programa mostrou que não é preciso sair daqui para ter qualidade de vida e abriu uma possibilidade: do braçal para o trabalho intelectual. O campo é vasto, tem a parte técnica, gerencial, comercial”, comentou a mobilizadora do sindicato de Divino, Viviane Souza Cunha.
O sindicato está com demandas para outras escolas, tanto envolvendo o Jovem no Campo quanto para outros cursos. “O Senar presta um serviço que transforma vidas. Aos poucos, é o que está acontecendo aqui. A gente está modificando conceitos e transformando a vida desses meninos. Eles se sentem como pessoas que podem fazer diferente, e isso é fantástico”, enfatizou.
A orientadora educacional da escola onde o programa foi oferecido, Renata de Souza, concorda. Segundo ela, além da instituição, que é rural, a comunidade também abraçou o programa, que contemplou principalmente alunos do 9º ano do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio.
“Eles sentiram-se honrados de participar deste programa. Viram que não precisam sair do campo e que é possível ter qualidade de vida aqui, que isso é viável. Os alunos perceberam que o programa foi um investimento no futuro deles”, afirmou.
Diferentes cadeias
Em parceria com o sindicato de Manhumirim, quatro turmas com cerca de 70 alunos de duas escolas estaduais de Martins Soares e Durandé também tiveram aulas sobre Cafeicultura, principal atividade econômica da região.
“Sempre buscamos levar novas oportunidades de qualificação. Assim apresentei esse programa para nossos parceiros: prefeituras das duas cidades, escolas, Sicoob, projeto Eco Águas e Fazenda Heringer”, comentou o mobilizador do Sindicato de Produtores Rurais de Manhumirim, Rudson Curcio.
Além da Cafeicultura, o programa contemplou também Bovinocultura de Leite e Olericultura. “Este ano foi muito produtivo. Terminamos com um alto índice de participação e vendo a satisfação dos alunos e dos pais, que viram os filhos engajados na atividade que eles fazem”, comentou a gerente regional do Senar Minas em Viçosa, Silvana Novais.
Em Sem Peixe, duas turmas com estudantes da Escola Família Agrícola e da Escola Estadual São Sebastião concluíram as aulas sobre a Bovinocultura de Leite. A região tem um grande potencial leiteiro e a atividade é uma das principais fontes de renda do município.
Para o mobilizador do sindicato de Dom Silvério, Marco Aurélio Alves, o programa preencheu uma das principais lacunas: a falta de apoio para permanecer no campo. “Foi importante para qualificar os jovens para futuramente assumir as propriedades com sabedoria e qualidade na produção. Levou conhecimento e motivação para os jovens para o início de uma nova caminhada junto aos seus familiares”.