As ameaças a Frei Gilberto levaram Lula a encarregar Dulci (esquerda) de informar-se com Nilmário sobre as providências do governo petista de Minas. (Fotos reprodução Internet)
Quem defende a mineração na Zona da Mata mineira e tentou intimidar Frei Gilberto Teixeira, 48 anos, franciscano da Fraternidade Santa Maria dos Anjos, pároco da igreja de Santo Antônio, em Belisário, distrito de Muriaé (MG), pode ter mexido em casa de marimbondo e corre o risco de ser ferrado. Se ameaçar quem defende movimentos populares já é uma questão fora de propósito e merece punição, este caso ganhou maior projeção ao despertar a atenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao tomar conhecimento da ameaça, através da reportagem do Blog – O frei ameaçado pela bauxita (05/03) – ele tratou de buscar informações junto ao governo estadual de Fernando Pimentel (PT) sobre as providências em defesa do religioso.
Frei Gilberto, antes de residir na Zona da Mata atuou em Belo Horizonte, Santos Dumont e Betim, cidades mineiras. Nelas, conviveu com petistas hoje ainda influentes como o atual secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania – SEDPAC, do governo de Minas, o ex-deputado federal e ex-ministro chefe da Secretaria de Direitos Humanos do governo Lula, Nilmário Miranda. Assim como com o ex-secretário geral da Presidência da República e diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci, outro mineiro, natural justamente da Zona da Mata, onde fica Muriaé. Coube a Dulci, a pedido de Lula, procurar Nilmário para se inteirar dos fatos.
“Sei que o problema envolve, como pano de fundo, a CBA, a Votorantin e a bauxita. Trata-se de um tipo de mineração muito predatória. Frei Gilberto tomou a defesa do pessoal. De comunidades tradicionais que não tinham proteção. E sofreu ameaça, Fomos informados dela há uma semana”, explica Miranda.
No domingo, 19 de fevereiro, após celebrar uma missa, o religioso foi abordado na casa paroquial por um desconhecido que o ameaçou com arma em punho: “Frei, o senhor está falando demais em mineração. Estou vindo aqui só para dar um aviso. Da próxima vez, se eu vier, não será agradável para o senhor. É para o senhor parar de falar de mineração nos seus espaços e aonde o senhor for”.
NILMÁRIO ESTARÁ EM BELISÁRIO NESTA TERÇA 14/03/17
Nilmário estará em Belisário na próxima terça-feira (14/03) para um encontro pessoal com Frei Gilberto – “que é nosso amigo, já era amigo nosso em Betim”. Levará a oferta do ingresso do religioso no programa de proteção dos defensores dos Direitos Humanos. “É um programa do Estado de Minas. Vamos mostrar como funciona, que tipo de proteção podemos oferecer. Ele não precisará sair do lugar em que vive. Antigamente, ninguém queria essa proteção porque para proteger tinham que mudar de cidade. Nós adaptamos o programa e hoje não precisa mais”, explicou.
Ele irá ainda a Leopoldina (61 quilômetros de distância), na sede da Diocese, encontrar-se com o bispo José Eudes Campos do Nascimento. Retornará a Muriaé à noite e se reunirá com a chamada sociedade civil da cidade – notadamente a rede de militantes da causa – na Casa de Direitos Humanos. Colherá a opinião dos moradores do município.
Algumas medidas de segurança para proteger o Frei já foram tomadas pela própria Igreja e os movimentos sociais que ele próprio defende. A cada noite dorme em um lugar diferente – casas de padres e de freiras, por exemplo. Passou a usar celulares com moderação, por medo de o rastrearem. Além disso, Miranda entende que diante das medidas adotadas, e mesmo sem procurar a CBA e outros possíveis envolvidos, o aviso de que ele está sob atenção do Estado já chegou aos envolvidos na ameaça. Dulci pensa parecido:
“O Nilmário está acompanhando isso há alguns dias. Nós conhecemos Frei Gilberto porque ele era de Betim e trabalhamos muito com os franciscanos de Betim em torno de questões sociais. Como você disse no seu artigo, envolve uma empresa do Grupo Votorantin. Mas, mesmo não tendo vínculo direto, a empresa sabe que se acontecer alguma coisa com o frei obviamente haverá a suspeita“.
Além da proteção ao frei propriamente dita, Miranda, em nome do governo do Estado, está preocupado com a questão da exploração da bauxita. Tanto ele como Dulci ressaltaram se tratar de problema sério – “ela é muito tóxica”, ressaltou o diretor do Instituto Lula.
“Vamos reconhecer que há um conflito e iniciar procedimentos em torno do conflito. É uma maneira de proteção. Uma coisa é quando uma pessoa ameaçada está lá no distrito, sozinha. Outra é quando as instituições do Estado entram no assunto”, alerta Miranda.
Manifestação Regional – Após esses contatos, ao retornar a Belo Horizonte, ele procurará a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Vai convocá-la para um programa que o governo estadual desenvolve: Mesa de Diálogo.
“Trata-se de uma mesa que atua no Estado inteiro lidando com conflitos de toda natureza. Envolve outras secretarias e instituições do Estado, mas nossa secretaria é que, através da subsecretaria de Participação Social, mantém um grupo de mediação de conflitos. É um grupo de craques em conflitos. Então mobilizaremos o Batalhão da Polícia Militar, a Polícia Civil, a Defensoria Pública, o Ministério Público, a secretaria de Meio Ambiente, a Secretaria de Direitos Humanos, a empresa, os atingidos. Todos sentam à mesa. Depois da viagem, de conversar com todo mundo, vamos providenciar a mesa. Os mediadores vão aonde for preciso para realizá-la. É um processo, nós temos experiência em dezenas e centenas de mesas. Este processo só termina quando se tem uma solução pacífica do conflito”, explica.
Em Belisário, as principais lideranças dos movimentos de defesa dos direitos humanos, do MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração, da Comissão Pastoral da Terra, entre outros, se reuniram na noite de terça-feira (07/03) para preparar o encontro com Nilmário e também a manifestação regional que farão dia 26 de março em Defesa da Água e Contra a Mineração. O ato se concentrará na praça e irá até uma cachoeira. Será finalizado com uma celebração.
Na manhã de quarta-feira (08/03), o Blog procurou o escritório de advocacia Moraes Pitombo, que tem a CBA como uma das clientes. Não obteve êxito, pois o titular do escritório, Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, estava ausente e não houve mais manifestação do mesmo.
Com informações do marceloauler.com.br / www.brasil247.com